Globo, Lava Jato, corrupção e criminalização da política
A PERCEPÇÃO GENERALIZADA HOJE é que os políticos estão enlameados. As forças populares, com fraca articulação e com o povo desinformado, tateiam no escuro em busca duma luz de esperança. O que é trágico, porque a solução só pode vir da política. (Foto reproduzida da Internet)
De Salvador-Bahia – Um dos traços mais acentuados da conjuntura política brasileira é a criminalização da política e dos políticos.
Não é de hoje, por certo. Há uns 15/20 anos atrás me lembro dum deputado baiano comentar que, quando chegava a um ambiente onde não era conhecido, nunca se identificava como político pois tinha consciência da má fama.
A partir das manifestações massivas de junho/2013 isto se tornou particularmente alarmante, ao ponto de forças políticas que até então se mantinham latentes saírem à luz do dia e começarem a se projetar no espaço público. Os círculos de caráter fascista costumam germinar num clima de criminalização da política e de incentivo ao ódio.
O agente mais visível que fez prosperar tal marca da conjuntura tem dois canais interligados: a Operação Lava Jato e a Rede Globo (com seus cúmplices da mídia hegemônica). Um não vive sem o outro. Uma dupla infernal. Lembram Pelé e Pepe no famoso ataque do Santos nos anos 60.
O fermento a adubar tão exitosamente o processo de criminalização da política não poderia ser mais eficiente: a corrupção, um câncer que corrói a alma da sociedade brasileira há 500 anos, atinge todos os setores, em especial o mundo empresarial, e que costuma ser tão ao gosto das relações capitalistas.
Na semana passada, por exemplo, tivemos um espetáculo de corrupção explícita: a maioria dos congressistas, na mesma Câmara dos Deputados que rifou Dilma – uma presidenta até prova em contrário honesta -, acaba de salvar (ou conceder uma sobrevida) Temer, um presidente ostensivamente corrupto.
Só que a Globo e a Lava Jato, que se reforçam com a memória do chamado Mensalão, tentaram fazer uma mágica impossível: meter na cabeça dos brasileiros que a corrupção foi inventada a partir de 2003, com o advento da era Lula/PT.
Mas, repito, seria uma mágica impossível, apesar da seletividade e partidarismo da campanha bem encetada pelos dois principais protagonistas.
A plateia acabou percebendo mais nuances no quadro que se pretendia apenas branco e preto. Mesmo porque o escandaloso monopólio da comunicação tradicional tem de conviver atualmente com o crescente poder da Internet/redes sociais.
Estão conseguindo suas metas principais: tiraram Dilma da presidência, buscam carimbar o PT como “organização criminosa” e avançam para tirar Lula do páreo de 2018.
Na economia, conseguiram aprovar a contrarreforma trabalhista, agravada pela terceirização total. O pré-sal foi entregue à sanha das empresas multinacionais, como prometido. E tentam afastar dificuldades para a aprovação das mudanças na Previdência, daí a divisão dos golpistas entre Fora Temer e Fica Temer. Os trabalhadores são penalizados pelo desemprego, enquanto são mantidos os ganhos do capital financeiro, do rentismo e dos especuladores. Os bancos, o narcotráfico e a criminalidade nadam de braçada.
Mas, entre as peripécias dos vazamentos e as tais delações premiadas, começaram a aparecer inúmeros vilões que, em princípio, estariam fora do script: dos manjadíssimos PMDB, PSDB e DEM, do famigerado Centrão e das bancadas do BBB (Boi, Bala, Bíblia).
Eduardo Cunha, um dos chefões – ao lado de Temer – do PMDB, está preso e condenado, embora nossos altos juízes do Supremo Tribunal Federal tenham esperado 142 dias para afastá-lo da presidência da Câmara (do dia do pedido feito pela PGR ao dia do afastamento). Só o fizeram depois que ele fez aprovar o prosseguimento do processo de impeachment de Dilma.
Mas, que diabo! – exclamam muitos direitistas indignados -, não era só para desencarnar esses petistas f.d.p.?
Era. Mas às vezes é impossível segurar o processo de acordo com o projetado. A dinâmica social e política é sempre mais complicada do que faz crer, na tela da TV, a “sabedoria” dos especialistas.
O fato concreto é que, hoje, a percepção generalizada é que os políticos estão enlameados. As forças populares, com fraca articulação e com o povo desinformado, tateiam no escuro em busca duma luz de esperança. O que é trágico, porque a solução só pode vir da política.
Quer dizer: uma política praticada em novos moldes, comprometida com o interesse público e entrelaçada com os movimentos sociais. Voltarei a este tema.