Quarta-feira, 30 de outubro. 19h.Anfiteatro Bento Prado Júnior, Área Norte, UFSCar.Com Takumã Kuikuro (diretor do filme junto com Carlos Fausto e Leonardo Sette)
O Filme
Temendo a morte da esposa idosa, um velho pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios, enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.
“Buscamos fazer um filme o menos etnográfico e hipercontextualizado possível”, disse Carlos Fausto, antropólogo e codiretor do projeto. “Nosso interesse era falar sobre música, memória e transmissão de conhecimento através do afeto e das relações familiares”.
Diretores: Carlos Fausto - Leonardo Sette- Takumã Kuikuro
Carta Capital – Por que é importante ver o filme, além de tudo, em meio a essa crise da questão indígena?
Carlos Fausto – Acho que ver o filme independe da crise. Ele vale, e esse sempre foi nosso intuito, como cinema e deveria atrair a todos que tem a sensibilidade para ver filmes menos lugar-comum. Agora, é óbvio que, neste contexto, ele ganha uma outra camada de significações. É, se não me engano, o primeiro filme de produção compartilhada com indígenas (um dos diretores é Takumã Kuikuro) que entra em cartaz. Isso não é pouco. Mostra como um trabalho sensível, cuidadoso, de longo diálogo e envolvimento com uma comunidade indígena conduz a uma sinergia positiva, uma troca em que ambas as partes têm a ganhar. Esse envolvimento requer a capacidade de escuta de parte a parte. E é justamente a capacidade para ouvir as reivindicações dos índios, o que falta neste momento. A crise até tardou a acontecer. Os índios chegaram a um limite de humilhação, humilhação hoje imposta também pelo governo federal, que sempre serviu como anteparo para minimizar os conflitos locais. Uma palavra anti-indígena de um ministro é entendida nos locais de conflito como uma licença para matar.
Carta Capital – O que pode esperar do filme o espectador que quer saber mais do universo indígena que esta sendo tão atacado?
Carlos Fausto – O filme não quer ensinar, nem explicar nada. É um musical, que fala da transmissão oral dos cantos, através de personagens e dramas humanos. Ele não pretende exotizar – o que se vê nas telas são pessoas com seus dramas e alegrias. Mas, é claro, pessoas não existem em um vácuo. Nossos dramas humanos também são culturais, eles têm uma forma própria: aqui no Rio, na aldeia kuikuro, em Oklahoma, em Pequim, no Irã ou em qualquer lugar. É apenas preciso abrir os olhos e escutar. O problema é que o Brasil vê essas formas culturais indígenas como atraso ou com um romantismo ingênuo. Em ambos os casos, exotiza, afasta, exclui. A fita requer uma educação do olhar e do ouvir. Ela quer envolver o espectador na vida kuikuro e fazê-lo compreender esse mundo desde uma perspectiva interna e íntima.
Debate com Takumã Kuikuro
Nascido em 1983, Takumã é o filho mais velho de Samuagü Kuikuro e Tapualu Kalapalo. Ele vive, como os outros realizadores Kuikuro, na aldeia de Ipatse, na Terra Indígena do Xingu, Estado de Mato Grosso. Fascinado pela câmara de vídeo desde a primeira oficina de video em 2002, Takumã tem sido um obstinado e inspirado ‘film maker’. Agora divide seu tempo entre a câmara e as obrigações que o ligam à família da jovem esposa.