quinta-feira, 22 de agosto de 2013


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

'Musa' do Black Bloc fala sobre a capa da Veja.



Sugerido por Nonato Amorim
Do Terra
Terra conversou com Emma, jovem que surgiu como representante nas redes sociais da ala feminista do grupo Black Blocs, que tem tomado a dianteira das manifestações em todo o País
Olhos claros, rosto encoberto. Fama de namoradeira, discurso político afiado. No universo negro, sem trocadilhos, dos Black Blocs, ela surgiu como representante nas redes sociais da ala feminista do grupo que tem tomado à dianteira das manifestações em todo o País. “Não sou feminista, as pessoas confundem muito”, tratou logo de avisar. Há cerca de duas semanas, ao contar um pouco de sua trajetória em entrevista para a Mídia Ninja, órgão independente que se tornou a voz dos ativistas, ficou ainda mais conhecida pelo fato também de ter o nome da famosa anarquista do século XX, a lituana Emma Goldman, que, com seus artigos e atitude anticapitalistas, foi a referência do movimento na época, na América do Norte. 
A jovem Emma, simples assim, sem maiores detalhes de sua vida pessoal, é uma manifestante de 25 anos, do Rio de Janeiro, que virou o rosto da capa da revista Veja para ilustrar uma extensa reportagem  sobre os Black Blocs, movimento que tem fama de arruaceiro e de enfrentamento para com a Polícia Militar.
“Usaram uma foto minha sem a minha autorização. Foi surpreendente para mim”, esclareceu em entrevista na qual o Terra foi autorizado a participar, junto com integrantes da Mídia Ninja, em plena avenida Delfim Moreira, no Leblon, próximo ao apartamento onde vive o governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB), o grande alvo das manifestações no Rio de Janeiro. Emma é integrante do Ocupa Cabral, movimento que há 23 dias acampa no local para pedir a renúnciade Cabral. 
Totalmente arredios a entrevistas para o que chamam de “grande mídia sensacionalista”, os jovens de ambos os movimentos costumam convocar assembleia para decidirem se concedem ou não entrevista para um determinado órgão de imprensa. “A gente até acredita no jornalista, no profissional, mas a gente sabe que quando ele levar aquele material para dentro da redação eles vão ser manipulados”, disse Emma, em sua opinião. 
Com o Terra, a situação não foi diferente. O repórter fotográfico Daniel Ramalho foi "aprovado" e teve acesso ao encontro marcado e gravado para que Emma apresentasse sua fúria, recheada de argumentos, para com o seu perfil publicado pela Veja. “Eles provavelmente pegaram esse depoimento do Mídia Ninja e cataram umas frases avulsas. Essa questão da manipulação tendenciosa é que eu me sinto sacaneada (sic). E fico bem irritada, pois eu fico imaginando quem é que está por trás disso, qual é a intenção real disso, quem é que está mandando?”, opinou a jovem. 
“Eu não me sinto ofendida, até porque a gente conhece o histórico político da Veja e se a gente for analisar todas as pessoas que foram execradas pela revista até que eu estou num hall bem bacana. E eu acho que ser ridicularizado pela Veja significa que a gente está certo. Se eu recebesse qualquer tipo de apoio ou aprovação, sinceramente, iria desfazer esse acampamento e começaria tudo do zero”, completou. 
A publicação em nenhum momento diz que conversou com Emma, e usa informações, de fato, do que foi dito na entrevista anterior ao Mídia Ninja, para reunir informações como, por exemplo, que a jovem saiu de casa aos 16 anos para viver numa favela e que chegou a trabalhar num banco, antes de abandonar o emprego “por desobediência civil”. Ela publicará em sua página pessoal no Facebook uma carta aberta a Veja na qual repudia o tom do artigo. E esclarece que a camisa vermelha da foto “é a bandeira da Paraíba” e que o grupo “não tem estoque grande de roupa preta, nenhuma loja de rock resolveu patrocinar os Black Blocs”, ironizou.
Para a manifestante, a fama repentina junto com sua foto espalhada, inclusive, em outdoors pelo País pode, no final, acabar sendo considerado “um favor para mim com toda essa visibilidade, porque se eu sofrer qualquer tipo de tentativa de agressão e homicídio, as pessoas já sabem quem é a Emma. E se tentarem algo, isso pode ser estopim para uma revolta ainda maior”. “Eu temo, sim, pela minha vida, temo pela minha família, mas isso não vai me cercear. Não vou sair do Ocupa Cabral, e não vou deixar de ir às manifestações”, disse ainda. 
 Daniel Ramalho / Terra
Sorridente, ela disse não entender o fato de que seus olhos claros, esverdeados, possam ter o poder de torná-la uma espécie de sex symbol das manifestações