segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Provocações" com Luiz Felipe Pondé.

Logo abaixo deste vídeo veja outra entrevista em que Pondé adimite que deixou de ser ateu.  
O filósofo Luiz Felipe Pondé explica por que (o milagre) deixou de ser ateu 

A revista Veja de 13/7 publicou entrevista interessante com o filósofo Luiz Felipe Pondé, de 52 anos. Responsável por uma coluna semanal na Folha de S. Paulo e autor de livros, Pondé costuma criticar certezas e lugares-comuns bem estabelecidos entre seus pares. Professor da Faap e da PUC, em São Paulo, o filósofo também é estudioso de teologia e considera o ateísmo filosoficamente raso, mas não é seguidor de nenhuma religião em particular.Pondé diz que “a esquerda é menos completa como ferramenta cultural para produzir uma visão de si mesma. A espiritualidade de esquerda é rasa. Aloca toda a responsabilidade do mal fora de você: o mal está na classe social, no capital, no estado, na elite. Isso infantiliza o ser humano. Ninguém sai de um jantar inteligente para se olhar no espelho e ver um demônio. Não: todos se veem como heróis que estão salvando o mundo por andar de bicicleta”. Sobre sexo, ele diz: “Eu considero a revolução sexual um dos maiores engodos da história recente. Criou uma dimensão de indústria, no sentido da quantidade, das relações sexuais – mas na maioria elas são muito ruins, porque as pessoas são complicadas.” 
 
Leia aqui mais alguns trechos da entrevista: 

Por que a política não pode ser redentora?  

O cristianismo, que é uma religião hegemônica no Ocidente, fala do pecador, de sua busca e de seu conflito interior. É uma espiritualidade riquíssima, pouco conhecida por causa do estrago feito pelo secularismo extremado. Ao lado de sua vocação repressora institucional, o cristianismo reconhece que o homem é fraco, é frágil. As redenções políticas não têm isso. Esse é um aspecto do pensamento de esquerda que eu acho brega. Essa visão do homem sem responsabilidade moral. O mal está sempre na classe social, na relação econômica, na opressão do poder. Na visão medieval, é a graça de Deus que redime o mundo. É um conceito complexo e fugidio. 
Não se sabe se alguém é capaz de ganhar a graça por seus próprios méritos, ou se é Deus na sua perfeição que concede a graça. Em qualquer hipótese, a graça não depende de um movimento positivo de um grupo. Na redenção política, é sempre o coletivo, o grupo, que assume o papel de redentor. O grupo, como a história do século 20 nos mostrou, é sempre opressivo. 

Em que o cristianismo é superior ao pensamento de esquerda?

 Pegue a ideia de santidade. Ninguém, em nenhuma teologia da tradição cristã – nem da judaica ou islâmica –, pode dizer-se santo. Nunca. Isso na verdade vem desde Aristóteles: ninguém pode enunciar a própria virtude. A virtude de um homem é anunciada pelos outros homens. Na tradição católica – o protestantismo não tem santos –, o santo é sempre alguém que, o tempo todo, reconhece o mal em si mesmo. O clero da esquerda, ao contrário, é movido por um sentimento de pureza. Considera sempre o outro como o porco capitalista, o burguês. Ele próprio não. Ele está salvo, porque reclica lixo, porque vota no PT, ou em algum partido que se acha mais puro ainda, como o PSOL, até porque o PT já está meio melado. Não há contradição interior na moral esquerdista. As pessoas se autointitulam santas e ficam indignadas com o mal do outro. 

Quando o cristianismo cruza o pensamento de esquerda, como no caso da Teologia da Libertação, a humildade se perde? 

Sim. Eu vejo isso empiricamente em colegas da Teologia da Libertação. Eles se acham puros. Tecnicamente, a Teologia da Libertação é, por um lado, uma fiel herdeira da tradição cristã. Ela vem da crítica social que está nos profetas de Israel, no Antigo Testamento. Esses profetas falam mal do rei, mas em idealizar o povo. O cristianismo é descendente principalmente desse viés do judaísmo. Também o cristianismo nasceu questionando a estrutura social. Até aqui, isso não me parece um erro teológico. Só que a Teologia da Libertação toma como ferramenta o marxismo, e isso sim é um erro. Um cristão que recorre a Marx, ou a Nietzsche – a quem admiro –, é como uma criança que entra na jaula do leão e faz bilu-bilu na cara dele. É natural que a Teologia da Libertação, no Brasil, tenha evoluído para Leonardo Boff, que já não tem nada de cristão. Boff evoluiu para um certo paganismo Nova Era – e já nem é marxista tampouco. A Teologia da Libertação é ruim de marketing. É como já se disse: enquanto a Teologia da Libertação fez a opção pelo pobre, o pobre fez a opção pelo pentecostalismo.

O senhor acredita em Deus? 

Sim. Mas já fui ateu por muito tempo. Quando digo que acredito em Deus, é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo.
Não é que eu rejeite o acaso ou a violência implícitos no darwinismo – pelo contrário. Mas considero que o conceito de Deus na tradição ocidental é, em termos filosóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou sem si mesmo, que é a coisa mais brega de todas.
Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo. Minha posição teológica não é óbvia e confunde muito as pessoas. Opero no debate público assumindo os riscos do niilista. Quase nunca lanço a hipótese de Deus no debate moral, filosófico ou político. 

Do ponto de vista político, a importância que vejo na religião é outra. Para mim, ela é uma fonte de hábitos morais, e historicamente oferece resistência à tendência do Estado moderno de querer fazer a cura das almas, como se dizia na Idade Média – querer se meter na vida moral das pessoas. 

Por que o senhor deixou de ser ateu? 

Comecei a achar o ateísmo aborrecido, do ponto de vista filosófico. A hipótese de Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo, me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la.
Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica.

Fonte: CACP

Os adolescentes indígenas e a cultura.

 (c/ Claudemir Monteiro)PDFImprimirE-mail
Artigos

Na vida dos povos indígenas a faixa etária infanto-juvenil é a mais importante. É nessa etapa que adolescentes e jovens (meninos e meninas) começam a definir melhor os seus papeis dentro da etnia.Percebem a importância da manutenção da vida do povo, seus elementos culturais e a definição do grupo ao qual pertencem.

É exatamente nesse período que eles participam do processo de iniciação, cada qual dentro da cultura a que pertence. Depois do rito de iniciação, adolescentes e jovens passam a ser homens e mulheres prontos para dar continuidade às novas gerações.

O aumento intensivo da relação de nossa sociedade nacional, frente a esse povos, compromete a vida desses jovens com novos valores afetando em cheio as culturas indígenas, transformando-as.

Os jovens, sobretudo, são os maiores captadores desses novos valores e trazem para dentro da aldeia, por exemplo, o novo corte de cabelo ou pintura do mesmo. A roupa incrementada que os jovens brancos usam também influencia na vida desses jovens índios. Porém o principal são as idéias: a idéia de falar diferente, de dançar diferente, substituindo a própria cultura.

Não é raro o conflito de idéias e costumes entre jovens e velhos índios nas aldeias.Nesse sentido, os mais velhos são portadores da cultura e guardiões dela. Mas se os jovens índios de hoje não conseguem assimilar a própria cultura, como se dará a continuidade desta na vida desses povos?

Outros fatores da política pública também faltam para essa faixa, principalmente no que se refere à educação indígena diferenciada.Os modelos de educação muito pouco tem utilizado o currículo e calendário próprios da cultura indígena.Muitos aspectos da educação são trazidos de fora para dentro da aldeia, ou seja, o formato do ensino, de cursos de formação de professores e programação.

Muitos jovens indígenas, que deveriam estudar na aldeia, buscam inclusão na cidade, uma vez que o sistema de ensino não permite a formação integral na aldeia em que vivem. Outros problemas advêm da própria convivência na cidade, como o alcoolismo que desde cedo atinge esses adolescentes e jovens indígenas, além da prostituição, sobretudo das meninas, principalmente nas áreas de garimpo.

É necessário pensar formas de ajudar os povos indígenas na formação dos seus jovens, sobretudo na área da educação e cultura. Assim como nossa sociedade influencia esses povos para um desvio cultural por meio das influencias dos meios de comunicação, modas e anti-valores, deveríamos pagar essa dívida ajudando esses povos e essa faixa etária a valorizar suas próprias cultu


Claudemir Monteiro 
Conselho Indigenista Mission?rio (CIMI) 

sábado, 18 de janeiro de 2014

DONA ZELITE ABRE O VERBO CONTRA OS ROLEZINHOS


(Ilustração: Maringoni/Carta Maior)
Entrevistamos Dona Zelite, a socialaite mais afamada de Higienópolis. O assunto não poderia ser outro: os rolezinhos que estão tirando a Zelite do sério.
Por Estanislaw Castelo, no portal Carta Maior, de 17/01/2014
Entrevistei, com exclusividade, Dona Zelite, a socialaite mais afamada de Higienópolis. O assunto não poderia ser outro: os rolezinhos que estão tirando a Zelite do sério.

Estanislaw: Dona Zelite, tudo bem?

Zelite: Essa já é a primeira pergunta, ou você está só me cumprimentando?

Estanislaw: Já é a primeira pergunta.

Zelite: Então quero logo dizer que só estou dando essa entrevista, quer dizer, dando não porque rico não dá nada, vende, oferece ou aluga; mas, enfim, só estou oferecendo essa entrevista por uma causa pedagógica. Temos que superar este momento antes que seja tarde. Antes que as pessoas de bem, aquelas que são as cabeças pensantes e reinantes do PIB, prefiram mudar de país. Voltando à sua pergunta, não, meu caro, não está nada bem. As pessoas de bem estão com medo. Eu estou com medo.

O país vai de mal a pior, pois se uma pessoa não tem garantido o seu direito constitucional de ir ao Shopping tranquilamente com uma Louis Vuitton sem sentir medo, sem ser incomodada, sem correr o risco de esbarrar em um rolezento vestindo um boné escrito “Funk You”... não, definitivamente, nada vai bem. Me dá aí seu caderninho pra ver se você escreveu Louis Vuitton direitinho, se não pega mal pra mim... tá ok.


Estanislaw: a senhora viveu a experiência de participar de um rolezinho?


Zelite: sim, infelizmente, eu vi, com esses olhos que o cirurgião plástico remodelou. Vi aquela horda de bárbaros invadindo o meu sossego e atropelando o aroma do meu Chanel. Eu me senti vítima de um tsunami de testosterona e progesterona que me assustou muito. Eram jovens tão mal vestidos que fariam Glória Kalil ter um enfarte. Por sorte eu desconhecia a maior parte dos palavrões que eles falavam. Uma em cada três vezes que eles abrem a boca é para dizer um palavrão. Um horror.


Estanislaw: Qual foi sua reação?


Zelite: Eu me refugiei em uma loja, que fechou as portas, e aguardei pacientemente sentada em um provador, com as cortinas bem fechadas.

 
Estanislaw: a senhora pensou em tomar alguma atitude por conta própria?


Zelite: Pensei e tomei. Imediatamente liguei para um ministro amigo meu, do Supremo, para pedir providências realmente supremas, pois o assunto é grave. É caso de segurança nacional. Descobri que esse meu amigo está em férias – eles vivem em férias. Tive que me contentar em travar um debate com o gerente do shopping. Cobrei providências urgentes e lembrei que sou sócia-proprietária do shopping. Mandei que ele impedisse aquela bagunça imediatamente. Que ponham portas com senhas individualizadas; detectores de aromas, para impedir gente com desodorante; portas giratórias com câmeras que identifiquem se a pessoa tem um padrão mais caucasiano, o que seja. A tecnologia está aí é pra nos ajudar a separar o joio do trigo.


EC: Então a senhora foi quem deu a ideia de barrar pessoas na entrada dos shoppings?


Zelite: Eu ofereci minha contribuição. Se for pra ajudar o Brasil, pode contar comigo, sempre. Meu amigo do Supremo retornou minha ligação ontem e disse que falaria com o pessoal dos tribunais de justiça. Parece que eles entenderam a gravidade da situação.


EC: Em sua opinião, essa questão não tem um fundo sociológico que...


Zelite: Ah, não me venha com sociologias. Esse pessoal que faz rolezinho nem sabe o que é isso. Eu, que sou vizinha de FHC, sei bem que tipo de sociologia esse pessoal merece. É o seguinte: mais uma vez, estamos vendo que a raiz do problema é a educação. Essa turba faltou à aula de Inglês que ensina que “shopping” é uma palavra que quer dizer “comprar”, “ir às compras”. Ou seja, os seguranças têm que perguntar aos rolezentos: vai comprar alguma coisa? Onde? Quanto custa o que você vai comprar? Deixa eu ver o dinheiro ou o seu cartão de crédito. Se não tiver, não entra. Simples. Não tem nada a ver com limpeza étnica. É o que eu chamo de limpeza ética, faz parte do espírito do capitalismo. País desenvolvido é país limpinho e cheiroso, qual o problema?


EC: a senhora acha que o fenômeno reflete a situação do país, ou é uma nova tendência?

Zelite: O que eu acho mesmo é que é muito triste ver as manchetes de jornal tomadas por esse assunto, quando, em pleno verão, poderíamos estar discutindo temas mais elevados, como a importância da combinação do uso de terno e gravata com bermudas chiquérrimas em escritórios, a atualidade das mechas californianas e questões de utilidade pública, como dicas de produtos básicos para se colocar na “nécessaire”. Deixa eu ver no seu caderninho como você escreveu “nécessaire”... não se esqueça do acento no primeiro “e”. Obrigada.

sábado, 4 de janeiro de 2014