segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

SNOWDEN: “EU COSTUMAVA TRABALHAR PARA O GOVERNO. AGORA EU TRABALHO PRO PÚBLICO”

(Foto: Courtesy of John Cusack)
Snowden: “Eu fui enganado pela propaganda”


Em entrevista, Edward Snowden revela que a mesma propaganda que ele hoje tenta desarmar o fez no passado se alistar para lutar conta o 'terrorismo'
É chocante que Barack Obama tenha aprovado uma "lista de morte" com 20 nomes. Mas é mesmo chocante? Que tipo de lista resumiria os milhões de mortos por todas as guerras americanas?
Por Arundhati Roy - The Guardian – reproduzido do portal Carta Maior, de 09/12/2015 (o título principal é do blog Evidentemente)
O que aconteceu em Moscou não foi uma entrevista formal. Tampouco foi um encontro secreto entre super-heróis mascarados. Fato é que John CusackDaniel Ellsberg (que vazou documentos do Pentágono durante a Guerra do Vietnam) e eu recebemos o cauteloso e diplomático Edward Snowden. E, infelizmente, as brincadeiras e as discussões que tiveram lugar no quarto 1001 não podem ser reproduzidas. A conferência que se deu ali não pode ser descrita em todos os seus detalhes. Na verdade, ela definitivamente não pode ser descrita. O mundo é uma centopeia que avança sobre as patas de milhões de conversas reais. E aquela certamente foi uma conversa real.

O que importava mesmo, talvez até mais do que foi conversado ali, era a atmosfera daquele quarto. Havia um Edward Snowden que, depois do 
11/09, estava endossando Bush e se alistando pra Guerra do Iraque. E havia aqueles como nós que, após 9/11, tinham feito exatamente o contrário. Já era tarde para essa conversa, é claro. O Iraque foi completamente destruído. E agora o mapa do que condescendentemente chamamos de "Oriente Médio" está sendo brutalmente redesenhado (mais uma vez). E ainda assim lá estávamos nós, todos nós, conversando entre si em um hotel esquisito na Rússia.

O lobby opulento do Moscow Ritz-Carlton estava repleto de milionários bêbados, ébrios pela fortuna nova e pelas lindas mulheres jovens, meio camponesas, meio supermodels, laçadas nos braços de senhores bajuladores - gazelas em seu caminho pra fama e pra fortuna, pagando suas dívidas aos sátiros que irão carregá-las. Nos corredores, você passa por algumas brigas sérias, cantando alto e tranquilo, enquanto os garçons conduziam carrinhos com torres de comida e talheres, para dentro e para fora dos quartos. No quarto 1001, nós estávamos tão perto do Kremlin que, se você colocasse sua mão para fora da janela, poderia quase tocá-lo. Nevava lá fora. Estávamos profundamente mergulhados no inverno russo - nunca reconhecido suficientemente por seu importante papel na Segunda Guerra. Edward Snowden era muito menor do que eu imaginei. Pequeno, ágil e puro, como um gato. Ele cumprimentou Dan em êxtase e nos saudou calorosamente. "Eu sei porque você está aqui", ele me disse, sorrindo. "Por quê?" "Para me fazer radicalizar." Eu ri.

Nos estabelecemos nos vários bancos e cadeiras e na cama de John. O Dan e o Ed pareceram muito satisfeitos em se conhecer e tinham tanto a conversar, que até ficou difícil de se intrometer no assunto deles. Às vezes eles falavam em algum tipo de linguagem em código: "(...)TSSCI" "Não, porque, como eu disse, este não é DS, este é da NSA. Na CIA, ele é chamado COMO". PRISEC ou PRIVAC?" (...) “TS, SI, TK, GAMMA-G(…)" etc.

Demorou um pouco até que eu me sentisse à vontade para interrompê-los. Snowden desarmou minha pergunta sobre ser 
fotografado segurando a bandeira americana revirando os olhos e dizendo: "Ah, cara. Não sei. Alguém simplesmente me entregou uma bandeira e tirou a foto. "E quando eu perguntei por que ele se inscreveu pra Guerra do Iraque, enquanto milhões de pessoas do mundo todo se opunham ao conflito, ele respondeu de maneira igualmente desconcertante: "Eu fui enganado pela propaganda".

Dan falou um pouco sobre como era incomum aos americanos que atuavam no Pentágono e na Agência Nacional de Segurança [
NSA] terem lido alguma coisa sobre o Excepcionalismo americano e sobre sua história de guerra. (E, depois de terem entrado, era pouco provável que o assunto lhes interessasse). Ele e o Ed tinham observado isso ao vivo, em tempo real, e ficaram horrorizados o suficiente para arriscar suas vidas e sua liberdade quando decidiram ser denunciantes. O que os dois claramente tinham em comum era uma forte e quase corpórea sensação de força moral - de certo e errado.

Um senso de justiça que, obviamente, funcionava não apenas quando eles decidiam denunciar aquilo que eles consideravam moralmente inaceitável, mas também na época em que eles se inscreveram pros seus empregos - Dan para salvar seu país do comunismo, Ed para salvá-lo do terrorismo islâmico. E o que eles fizeram, quando veio a desilusão, foi tão eletrizante e tão dramático, que passaram a ser identificados por esse único ato de coragem.

Perguntei ao Ed Snowden o que ele achava da capacidade de Washington para destruir países e sua incapacidade para vencer guerras (apesar da vigilância de massa). A pergunta foi formulada de um jeito grosseiro - algo como: "Quando foi a última vez que os EUA venceram uma guerra?" Discutimos se as sanções econômicas e a posterior invasão do Iraque poderiam ser classificadas como genocídio. Conversamos sobre o papel da CIA - que se preparava - em um mundo onde a guerra não se travava apenas entre países, mas funcionava através de guerras internas, no qual seria necessário controlar as populações com vigilância de massa. E sobre como os exércitos estavam se transformando em forças policiais para administrar os países invadidos e ocupados, enquanto a polícia - mesmo em lugares como a Índia e o Paquistão ou Ferguson, Missouri, nos Estados Unidos - estava sendo treinada para operar como exército e acabar com insurreições internas.

Ed falou por algum tempo sobre vigilância. E aqui eu vou citar coisas que ele havia dito muitas vezes antes: "Se não fizermos nada, seremos sonâmbulos em um estado de vigilância total, uma espécie de super-Estado com capacidade ilimitada para aplicar a força bruta e para saber (sobre as pessoas) - e isso é uma combinação muito perigosa. Esse é o futuro sombrio. O fato de que eles sabem tudo sobre nós e nós não sabemos nada sobre eles - porque eles são secretos, eles são privilegiados, eles são uma classe separada... são uma elite, a classe política, a classe que tem acesso aos recursos - não sabemos onde eles vivem, não sabemos o que eles fazem, nós não sabemos quem são seus amigos. Eles têm a capacidade de saber tudo sobre nós. Esse é o futuro, mas eu acho que há esperança"

Eu perguntei ao Ed se a NSA não estava apenas fingindo se irritar com suas revelações, e secretamente ficando satisfeita por ser reconhecida como essa agência onisciente que tudo vê - afinal isso ajuda a manter as pessoas com medo, fora de equilíbrio, sempre olhando por cima dos ombros e fáceis de gerenciar. Dan falou sobre como, mesmo nos EUA, ainda faltava outro 9\11 para que chegássemos em um estado policial: "Nós não vivemos em um estado policial agora, ainda não. Eu estou falando do que pode vir a acontecer. Veja bem: pessoas brancas, de classe média, com acesso a educação, como eu, não estão vivendo em um estado policial; mas as pessoas negras e pobres estão vivendo essa realidade. A repressão começa com o semi-branco, aquele do Oriente Médio, incluindo seus aliados, e daí em diante só piora. Mais um 11/09 e então teremos centenas de milhares de detenções. Pessoas do Oriente Médio ou muçulmanos serão colocados em campos de detenção ou deportados. Depois do 9/11, tivemos milhares de pessoas presas sem acusação. Mas eu estou falando do futuro. Eu estou falando sobre algo a nível dos japoneses nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Eu estou falando de centenas de milhares em campos de concentração ou deportados. E a vigilância é muito relevante para isso. Eles saberão quem perseguir - os dados já foram recolhidos" (Quando ele disse isso, eu me perguntei como tudo seria diferente se Snowden não fosse branco).

Nós conversamos sobre guerra e ganância, sobre terrorismo e sobre qual seria sua definição mais precisa. Falamos sobre países, bandeiras e sobre o sentido do patriotismo. Nós conversamos sobre a opinião pública e sobre o quão inconstante poderia ser seu conceito de moralidade, tão facilmente manipulável. Não era uma conversa só de perguntas. Estávamos em uma reunião incongruente. Ole von Uexküll da Fundação Right Livelihood, na Suécia, eu e três norte-americanos problemáticos. John Cusack, que organizou tudo, vem também de uma excelente tradição - de músicos, escritores, atores, atletas que se recusam a engolir toda essa baboseira e, no entanto, são muito bem tratados.

O que será de Edward Snowden? Será que ele vai poder voltar pros EUA? Suas chances não parecem boas. O governo dos EUA, bem como ambos os principais partidos políticos - querem puni-lo pelo enorme dano que causou, na percepção deles, às políticas de segurança. (Também 
Chelsea Manning e os demais denunciantes). Se não for possível matar ou prender Snowden, eles tendem a usar tudo que puderem para limitar os danos que ele causou e continua a causar. Uma das formas é tentar conter, cooptar e manobrar o debate em torno das denúncias. E, em certa medida, eles conseguem fazer isso.

No debate da Segurança Pública X Vigilância de Massa que está ocorrendo nos meios de comunicação ocidentais tradicionais, o objeto de amor são os EUA. Os EUA e suas ações. Eles são morais ou imorais? Eles estão certos ou errados? São os denunciantes patriotas ou traidores americanos? Dentro dessa matriz de moralidade limitada, outros países e culturas - mesmo quando são vítimas de guerra dos norte-americanos - geralmente aparecem apenas como testemunhas no julgamento principal. Eles reforçam tanto o ultraje dos acusadores quanto a indignação da defesa.

O julgamento, quando efetuado nesses termos, serve para reforçar a ideia de que é possível existir uma superpotência moderada e moral. Será que nós não estaríamos testemunhando sua existência e ação? Sua mágoa? Sua culpa? Seus mecanismos de auto-correção? Sua mídia? Seus ativistas que não aceitam cidadãos americanos comuns (inocentes) sendo espionados por seu próprio governo? Nesses debates, que muitas vezes parecem ferozes e inteligentes, palavras como público, segurança e terrorismo são atiradas a esmo, mas elas continuam, como sempre, vagamente definidas e são usadas muito frequentemente na forma como o Estado norte-americano gostaria que fossem usadas.

É chocante que Barack Obama tenha aprovado uma "lista de morte" com 20 nomes. Mas é mesmo chocante? Que tipo de lista resumiria os milhões de mortos por todas as guerras americanas? Nesse contexto, Snowden, em seu exílio, deve permanecer estratégico e tático. Ele se encontra na posição impossível de ter de negociar os termos de sua anistia com as próprias instituições dos EUA que se sentem traídas por ele e, ao mesmo tempo, negociar os termos de sua estadia na Rússia com Vladimir Putin, não exatamente uma referência em humanitarismo. Assim as superpotências mantêm Snowden em uma posição difícil, na qual ele deve ser extremamente cuidadoso sobre como utiliza os holofotes que conquistou e o que diz publicamente.

Deixando de lado o que não pode ser dito, a conversa em torno da denúncia foi emocionante - com direito a uma boa dose de Realpolitik - atarefada, importante e cheia de juridiquês. Ela envolve espiões e caçadores de espiões, aventuras, segredos e denunciantes. É um universo, digamos, muito particular e perigoso. Que, no entanto, abriu margem para considerações políticas mais amplas, mais radicais, como a conversa que Daniel Berrigan, padre jesuíta, poeta e opositor à guerra (contemporâneo de 
Daniel Ellsberg) queria ter quando disse que "cada Estado-nação tende ao imperialismo - esse é o ponto”.

Fiquei contente de ver quando Snowden fez sua estreia no Twitter (ultrapassando meio milhão de seguidores em menos de um segundo) e disse: "Eu costumava trabalhar para o governo. Agora eu trabalho pro público". O implícito nessa frase é a perspectiva de que o governo não atua em função da população. E esse é o início de uma conversa subversiva e inconveniente. Por "governo", naturalmente, ele se refere ao governo dos EUA, seu antigo empregador. Mas o que ele quer dizer com "público"? O público norte-americano? Que parte do público dos EUA? Ele terá que decidir ao longo do caminho. Nas democracias, a separação entre um governo eleito e um "público" nunca é muito clara. A elite geralmente é fundida com o governo de forma homogênea. Visto por uma perspectiva internacional, se realmente existe tal coisa como "o público norte-americano", seria ele um público muito privilegiado. O único "público" que eu conheço é um labirinto complicado.

Estranhamente, quando penso sobre a reunião no Moscou Ritz-Carlton, a memória que lampeja é uma imagem do Daniel Ellsberg. Dan, depois de todas essas horas de conversa, deitado de costas na cama, com os braços abertos, semelhante a um Cristo, chorando por que os EUA se transformou em um país cujas "melhores pessoas" precisam ir pra prisão ou pro exílio. Fiquei comovida e preocupada com suas lágrimas - porque eram as lágrimas de um homem que viu a máquina de perto. Um homem que esteve lado a lado com as pessoas que a controlavam e que friamente contemplavam a ideia de aniquilar a vida na Terra. Um homem que arriscou tudo para denunciar esses absurdos. Dan conhece todos os argumentos. Ele frequentemente usa a palavra imperialismo para descrever a história e a política externa dos EUA. E ele sabe que agora, 40 anos depois de tornar públicos os documentos do Pentágono, que mesmo se esses indivíduos em específico tiverem ido embora, a máquina continua a funcionar.
As lágrimas de Daniel Ellsberg me fizeram pensar sobre o amor, sobre a perda, sobre os sonhos - e, acima de tudo, sobre o fracasso. Que tipo de amor é esse que temos por países? Algum país virá um dia a viver de acordo com os nossos sonhos? Que tipo de sonhos são estes que foram arruinados? Não seria a grandeza das grandes nações diretamente proporcional à sua capacidade de ser cruel e genocida? Não seria razoável afirmar que a altura do "sucesso" de um país geralmente acompanha as profundezas de seu fracasso moral? E o que dizer sobre o nosso fracasso? Escritores, artistas, radicais, anti-nacionais, independentes, descontentes - o que dizer sobre o fracasso da nossa imaginação? O que dizer sobre a nossa incapacidade de substituir a ideia das bandeiras e dos países por um objeto de amor menos letal? Os seres humanos parecem incapazes de viver sem guerra, mas eles também são incapazes de viver sem amor. Então a questão que se coloca é: a que devemos devotar nosso amor?

Escrever esse texto num momento em que os refugiados inundam a Europa - resultado de décadas de intervenção norte-americana e europeia no "Oriente Médio" - me faz pensar: quem é um refugiado? Edward Snowden é um refugiado? Certamente ele é. Por causa do que ele fez, ele não pode mais voltar para o lugar que ele considera seu país (embora possa continuar a viver onde ele fica mais confortável - na internet). Os refugiados de guerras no Afeganistão, no Iraque e na Síria fogem da guerra enquanto modo de vida. Mas os milhares de pessoas em países como a Índia, que estão sendo presas e mortas por esse mesmo estilo de vida, os milhões que estão sendo expulsos de suas terras e fazendas, exilados de tudo o que jamais conheceram - sua língua, sua história, a paisagem que os formou - esses não são refugiados. Afinal, enquanto sua miséria estiver contida dentro de fronteiras arbitrariamente traçadas, dentro do seu "próprio" país, então eles não serão considerados refugiados. Mas eles são refugiados. Embora, certamente, em termos numéricos, essas pessoas sejam a grande maioria no mundo atual. Infelizmente, nas imaginações limitadas por bandeiras e fronteiras, eles não fazem parte desse recorte.

Talvez o mais famoso dos refugiados desse modo de vida em guerra seja 
Julian Assange
, o fundador e editor do WikiLeaks, que atualmente está servindo seu quarto ano consecutivo como hóspede fugitivo em um quarto da embaixada equatoriana em Londres. Até recentemente, a polícia permanecia estacionada em um pequeno lobby do lado de fora da porta da frente. Havia atiradores no telhado, com ordens para prendê-lo, alvejá-lo e arrastá-lo para fora caso ele colocasse ao menos um dedo do pé para fora da porta, o que para todos os efeitos legais é uma fronteira internacional. A embaixada equatoriana fica na rua em frente ao Harrods, a loja de departamentos mais famosa do mundo.

No dia em que conhecemos Julian, a Harrods estava cheia de frenéticos compradores de Natal. Aquela rua de Londres cheirava a opulência e a excesso, mas também a encarceramento e a medo de um Mundo Livre, com verdadeira liberdade de expressão. Naquele dia (na verdade, naquela noite) nós nos encontramos com Julian, e não fomos autorizados pela segurança a levar telefones, câmeras ou quaisquer dispositivos de gravação pro quarto. E assim, sem registro, manteremos também a conversa que ali se travou.

Apesar das probabilidades jogarem contra seu fundador e editor, o WikiLeaks continua com seu trabalho, tão fresco e despreocupado como sempre. Recentemente, ele ofereceu um prêmio de US$100.000 para qualquer um que pudesse fornecer "documentos fortes" sobre o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (APT), um acordo de livre comércio entre a Europa e os Estados Unidos que visa dar a corporações multinacionais o poder de processar governos soberanos que impactarem negativamente os lucros de suas empresas. Por “atos criminosos” poderíamos incluir governos que aumentam o salário mínimo dos trabalhadores, que não são vistos reprimindo os aldeões "terroristas" que impedem o trabalho das empresas de mineração, ou, digamos,  que tem a ousadia de recusar as sementes geneticamente modificadas e patenteadas pelas corporações da Monsanto. O APT é apenas mais uma das armas, como a vigilância intrusiva ou o urânio empobrecido, que são utilizados para garantir esse modo de vida baseado na guerra.

Olhando para Julian Assange do outro lado da mesa, pálido e desgastado, sem ter tido cinco minutos de sol nos últimos 900 dias, e ainda assim se recusando a desaparecer ou capitular, como seus inimigos gostariam, eu sorri com a ideia de que ninguém pensa nele como um herói australiano ou um traidor australiano. Para seus inimigos, Assange traiu muito mais do que um país. Ele traiu a ideologia dos poderes dominantes. E, por isso, eles o odeiam ainda mais do que odeiam Edward Snowden. E isso quer dizer muita coisa.

Nos dizem, com bastante frequência, que nós estamos à beira do abismo enquanto espécie. Será possível que nossa inflada inteligência tenha superado nosso instinto de sobrevivência e que não haja mais uma estrada de volta? Nesse caso, não há mais nada a ser feito. Mas se houver algo a ser feito, então uma coisa é certa: aqueles que criaram o problema não serão os mesmos que apresentarão uma solução. Criptografar nossos e-mails pode ajudar, mas não muito. Recalibrar a nossa compreensão sobre o que significam termos como amor, como felicidade, como pátria. Recalibrar nossas prioridades.

Uma antiga floresta, uma cadeia de montanhas ou o vale de um rio são certamente mais importantes e, certamente, mais amáveis do que qualquer país jamais será. Eu poderia chorar por um vale de rio, e eu tenho feito isso. Mas por um país? Ah, cara, sei lá.

Esta é a parte final do Things That Can And Cannot Be Said, uma série de John Cusack e de Arundhati Roy. Uma versão mais longa deste artigo aparece na revista Outlook, na Índia. 
Arundhati Roy é autora do premiado romance The God Of Small ThingsSeu mais recente trabalho de não-ficção é Capitalism: A Ghost Story.

Tradução por Allan Brum

Fonte: http://blogdejadson.blogspot.com.br/

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Betelehemu (Belém) - ensaio cantata de Natal 2015


Ensaio para Cantata de Natal da Assembleia de Minas 2015 - Betelehemu- canção natalina nigeriana- língua Yorubá- de Babatunde Olatunji- Arranjo Barrington Brooks - Ed. e regência Cleude William
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=6EBZwIIeUN4

Pastor mostra como é facil enganar os fieis



sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Quatro jovens do MST são presos por sujar paredes da Câmara com lama numa intervenção teatral (limpas depois de alguns minutos), enquanto diretores da Vale foram responsáveis por mortes, desaparecimento de pessoas, destruição de centenas de lares, contaminação ambiental por lama tóxica, e continuam todos soltos?!
Esta ação violenta da Polícia Legislativa somada a outros recentes episódios na casa apenas demonstram a arbitrariedade do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acuado com os inúmeros protestos que pedem sua saída da presidência da casa por causa das recentes denúncias de corrupção que envolvem sua pessoa.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

10 filmes para refletir sobre Consciência Negra

– 896,9 mil indígenas (Censo 2010)
– 305 etnias indígenas: 250 em terras indígenas, 300 fora delas
– mais de 150 línguas diferentes e uma imensa diversidade entre os povos. Apesar do mapa elencar as principais etnias, neste link do ISA você pode ver um quadro geral dos povos indígenas por informações demográficas e famílias linguisticas:http://goo.gl/ObJgKy. Ainda assim, "no Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é" (http://goo.gl/eztO) – Eduardo Viveiros de Castro

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Lucia Di Lammermoor, de Gaetano Donizetti - Grande Teatro do Palácio das Artes. De 10 de Novembro, Terça a 22 de Novembro, Domingo


Ao completar 180 anos, Lucia Di Lammermoor, de Gaetano Donizetti, mantém o frescor das grandes expressões do Bel Canto em nova montagem operística da Fundação Clóvis Salgado.
Com direção musical e regência do maestro Silvio Viegas e direção cênica de André Heller-Lopes, a ópera estreia no dia 10 de novembro. O palco do Grande Teatro do Palácio das Artes recebe mais quatro récitas nos dias 16, 18, 20 e 22 de novembro.
As histórias de amor são atemporais e irrestritas a geografias. A montagem da FCS tem essa característica e traz para o público a trama de amor, loucura e poder dos clãs Ashton e Ravenswood que tem ao centro o amor impossível da jovem e apaixonada Lucia.
Realizada pela primeira vez na FCS há 30 anos, a obra, originalmente ambientada na Escócia do século XVII, é atualizada e ganha contornos contemporâneos e atemporais em 2015.
A montagem ganha vida nas vozes do trio de solistas responsáveis por interpretar uma das mais belas e difíceis composições de Donizetti: a soprano Jaquelina Livieri (Argentina), que estreia nos palcos brasileiros no papel de Lucia; Eric Herrero (SP) vivendo o jovem Edgardo de Ravenswood; e o barítonoLeonardo Neiva (DF) encarnando Enrico Ashton, Lord di Lammermoor. Completam o elenco de solistas o baixo, Mauro Chantal (MG), no papel de Raimondo; o tenor Santiago Ballerini (Argentina), como Arturo; a mezzosoprano Aline Lobão (MG), no papel de Alisa; e o tenor Mateus Pompeu (MG), vivendo Normanno.
As participações da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e do Coral Lírico de Minas Geraiscompletam o elenco de mais uma grande produção operística da Fundação Clóvis Salgado.

LUCIA DI LAMMERMOOR

Encenada pela primeira vez em 26 de setembro de 1835, inaugura um formato operístico diferenciado para sua época, apresentando inovações tanto na música quanto no libreto, de Salvadore Cammarano. O enredo é baseado no título The Bride of Lammermoor, de Walter Scott.
Nas mãos de Donizetti a história ganha contornos dramáticos com o relacionamento entre membros das duas famílias inimigas, cujos filhos se apaixonam. A trama atinge seu ápice na célebre “ária da loucura”, um dos mais sublimes momentos da tradição operística do bel canto, que desperta sempre enorme expectativa entre os apreciadores do canto lírico. Donizetti também presenteia o público, nesta ópera, com um memorável sexteto, que ocupa lugar de relevância no repertório operístico mundial.

PARA COROAR O BEL CANTO

Responsável por compor melodias riquíssimas, que dialogam com a dramaticidade das histórias, Donizetti apresenta em Lucia Di Lammermoor uma das maiores expressões da sua originalidade e genialidade musical.
A suntuosidade da obra poderá ser conferida na íntegra, já que a escolha do maestro Silvio Viegas foi manter todas as cenas, inclusive a primeira do terceiro ato durante o embate entre Enrico e Edgardo.

SOBRE AMOR, LOUCURA E PODER

A montagem da Fundação Clóvis Salgado busca atualizar a história de Lucia Di Lammermoor. O carioca Andre Heller-Lopes dirige pela primeira vez essa obra.
A ideia, segundo ele, é ambientar a trama em um período atemporal e não identificar a montagem em um lugar ou época. Com isso, a ópera apresentada em Belo horizonte busca concentrar-se na narrativa do trágico amor entre Lucia di Lammermoor e Edgardo de Ravenswood.
A contemporaneidade estará presente nos figurinos de Sofia Di Nunzio, que ‘brinca com peças de diferentes décadas dos séculos XX e XXI, além do cenário e cenografia de Renato Theobaldo, que mostram a sensação de aprisionamento e realizam um diálogo com a ‘loucura’.
A ‘loucura’ de Lucia está intimamente ligada às relações de poder daquela sociedade, em que a disputa política entre duas famílias, os Ashton e os Ravenswood, se sobrepõe aos anseios dos dois apaixonados. Nesse contexto, as necessidades financeiras dos Ashton agravam a situação e obrigam Lucia a aceitar um casamento arranjado a contragosto.

ENREDO E SINOPSE

Lucia Di Lammermoor, narrada em três atos, revela o romance proibido entre Lucia Ashton di Lammermoor e Edgardo Ravenswood, jovens oriundos de clãs inimigas.
Inspirada no livro The Bride of Lammermoor (A Noiva de Lammermoor), de Sir Walter Scott, e com libreto de Salvatore Cammarano, esse é considerado um dos trabalhos mais brilhantes de Donizetti.
ATO I
Cena I 
Um desconhecido fora visto rondando as terras que outrora pertenceram à família Ravenswood. Normanno, capitão da guarda de Lord Enrico Ashton di Lammermoor – atual proprietário – e os guardas comentam a ação. É noite e eles suspeitam que o ‘desconhecido’ seja Edgardo, último membro da nobre família Ravenswood, agora arruinada. Normanno conta que a irmã do Lord Enrico, Lucia di Lammermoor, fora salva de ser atacada por um touro pelo próprio Edgardo mas, mesmo assim, a simples menção do nome do inimigo enfurece o Lord e, ao saber que os jovens agora encontram-se secretamente, fica ainda mais agitado e jura vingar-se.
Cena II
Perto dali, ao amanhecer, Lucia espera nervosamente por Edgardo. Confessa à amiga Alisa, que a acompanha, que treme ao ver a fonte onde, segundo uma antiga lenda, um antepassado dos Ravenswood assassinou sua amada por ciúmes. Com seu espírito impressionável e frágil, diz ter visto a imagem da mulher assassinada refletida na água da fonte, que se tornou vermelha como sangue. Chega Edgardo, mas para anunciar-lhe que precisa partir para a França. Ele afirma que, apesar do ódio entre as famílias, gostaria de fazer uma última tentativa de conciliação com Enrico, pedindo Lucia em casamento como símbolo dessa união. Assustada com a fúria do irmão, ela o induz a mudar de ideia. Os amantes se despedem com uma das frases mais deslumbrantes da partitura: “A ti chegarão meus suspiros ardentes, e saberás que longe de ti vivo entre espasmos e dores”. Antes de se separarem, trocam alianças e juram fidelidade.
ATO II
Cena I
Interessado em recuperar sua bem sucedida situação financeira, Lord Enrico quer que a irmã se case com o nobre de posses Lord Arturo Bucklaw. Para alcançar seu objetivo, apodera-se das cartas de Edgardo, falsificando uma delas com a ajuda de Normanno. Mostra a Lucia essa mensagem, na qual o amante supostamente confessava não amá-la mais. Aproveita para repreender a irmã por ter se apaixonado por um inimigo e impõe o casamento com Arturo, o único que pode salvar a todos da ruína. Acuada, Lucia se deixa por fim convencer por Raimondo, homem religioso e preceptor de Lucia e do irmão. Seu coração está mortalmente ferido.
Cena II
Realiza-se, então, a celebração nupcial. A chegada de Arturo é celebrada por todos os convidados e suas dúvidas com relação a Lucia são dispersadas por Enrico. A noiva entra visivelmente transtornada, mas é forçada a assinar o contrato de matrimônio. É nesse momento que entra, de improviso, Edgardo, que ameaça atacar Enrico. Tem início o célebre sexteto da ópera, quando cada um expressa suas sensações, num misto de ira, terror e surpresa. Raimondo interpõe-se entre os inimigos, invocando a palavra divina para evitar um duelo. Apresenta a Edgardo o contrato assinado por Lucia e este volta-se furiosamente contra a amante que imagina ter traído os céus e o amor. O jovem Ravenswood abandona a sala amaldiçoando a família que tanto detesta.
ATO III
Cena I
Na mesma noite, algumas horas mais tarde, Edgardo está torturado pelo seu terrível destino, como a noite tempestuosa que se anuncia. Enrico vem zombar de sua infelicidade e ainda desafiá-lo para um duelo. Uma estranha fascinação e ódio atraem Enrico a Edgardo. Enquanto isso, no Castelo de Lammermoor, festeja-se ainda o casamento de Lucia. Mas as celebrações são interrompidas por Raimondo com a notícia de uma terrível tragédia. Lucia enlouquecera e matara o marido no leito nupcial. É a própria jovem que aparece desnorteada pouco depois e seu estado de loucura leva-a a diversas lembranças e estados d’alma. Em seu delírio, descreve a cena das núpcias e a tragédia final. Ao chegar, Enrico percebe o estado da irmã que, antes de desmaiar, ainda imagina o dia em que será feliz no céu, junto a Edgardo.
Cena II
Cemitério em que repousa toda a família Ravenswood e onde Edgardo espera para duelar com Enrico. Ele sofre vendo as janelas iluminadas e imagina que celebram ainda o casamento. Um canto fúnebre interrompe sua tristeza e os homens a sua volta avisam-no do crime cometido por Lucia. Antes que possa ir ao encontro da amada, ouve os toques fúnebres de um sino. Edgardo, transtornado, tira a própria vida, num delírio de loucura.

Evento: Lucia Di Lammermoor, de Gaetano Donizetti - Data - De 10 de Novembro, Terça a 22 de Novembro, Domingo

Horário: 10, 16,18 e 20 de novembro às 20h e 22 de novembro às 19h

Local: Grande Teatro do Palácio das Artes



Cerca de 15 mil mulheres foram a avenida Paulista no começo da noite desta sexta-feira 30 de outubro protestar contra...
Posted by CartaCapital on Sábado, 31 de outubro de 2015

sábado, 31 de outubro de 2015

DEBATE DA CONJUNTURA: O “MEGA ESQUEMA DE CORRUPÇÃO” DA DÍVIDA PÚBLICA É ESCONDIDO DOS BRASILEIROS


Sessenta pessoas lotaram o auditório do Sindpec, nos Barris
Primeira matéria após o primeiro debate ANÁLISE DE CONJUNTURA: ENTENDER A REALIDADE PARA TRANSFORMÁ-LA, realizado na quinta-feira, dia 22, no Sindpec, em Salvador. Outras matérias virão e o segundo encontro já está marcado para 11 de novembro.

Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor do Blog Evidentemente – publicado em 26/10/2015

O governo brasileiro em 2014 gastou 978 bilhões de reais com juros e amortizações da dívida pública, ou 45,11% do orçamento executado, bem mais que os 718 bilhões de reais (40,30%) gastos no ano anterior.

A informação é do professor Joaci Cunha, assessor do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), citando dados da Auditoria Cidadã da Dívida, entidade fundada no Brasil pela ex-auditora da Receita Federal, Maria Lúcia Fattorelli, cujo trabalho tem reconhecimento internacional - participou da auditoria da dívida do Equador e da Grécia.

Em entrevista à revista Carta Capital, em junho último, Fattorelli se refere à dívida pública como “o mega esquema de corrupção institucionalizado”, (reproduzi a matéria no Evidentemente – link aqui).

As informações sobre tal tema, porém, são praticamente sonegadas à população brasileira: o governo as esconde com artimanhas contábeis e os monopólios da mídia hegemônica, atrelados aos interesses do capital financeiro (especulativo por excelência), também tratam de silenciar: você, com certeza, nunca verá o Jornal Nacional (da TV Globo) falar sobre este escândalo, nem tampouco outros veículos da chamada grande imprensa, pelo menos com algum destaque.

O aprisionamento do Estado brasileiro ao esquema da dívida pública – hoje em torno de 3,6 trilhões de reais – não foi destacado apenas por Joaci Cunha durante o debate ANÁLISE DE CONJUNTURA: ENTENDER A REALIDADE PARA TRANSFORMÁ-LA, realizado na última quinta-feira, dia 22, no Sindpec, em Salvador. 
Joaci, Carlos Freitas, da Comissão da Verdade da Faculdade de Direito, que coordenou os debates, e Renildo Souza, professor da Faculdade de Economia
Renildo e Luiz Filgueiras, também professor da Faculdade de Economia da UFBa
Linauro Neto, advogado, ativista da Oposição Operária (OPOP), que publica a revista Germinal
Também Luiz Filgueiras, professor de Economia da UFBa, um dos quatro debatedores no encontro, foi enfático ao falar do crescimento da dívida pública brasileira e do “novo bloco no poder sob a hegemonia do capital financeiro, que passou a ditar as políticas fundamentais do Estado”.

Ao frisar que o tema é hoje central não só no Brasil, mas em todo mundo – “o ajuste fiscal é permanente”, observou – Filgueiras chamou a atenção para a atualidade da advertência de Karl Marx, de lá do século 19, segundo o qual “todo tesouro é real (de realeza, do rei) e toda dívida é pública”.

Tema será destaque na nova Cadernos do CEAS

A dívida pública será tema de destaque na nova revista Cadernos do CEAS, a ser relançada no próximo dia 20, em Salvador, agora em edição online. Joaci Cunha, editor-chefe da publicação, me enviou um pequeno trecho de seu artigo – agradeço a deferência -, ampliando a informação que abre esta matéria:

“A resposta oficial a este quadro (situação da dívida pública), todavia, foi crescentemente recorrer ao receituário neoliberal dos ajustes fiscais e elevação da taxa de juros. Desde então, os cortes de despesas orçamentadas vêm se sucedendo, tendo essas verbas como destino o pagamento adicional da dívida. Paralelamente, o governo elevou os juros até o patamar atual de 14,25%, o mais elevado do planeta, evidenciando seu compromisso com os interesses do capital financeiro e sua sanha especulativa.

Com isso cresce ainda mais a parcela do orçamento comprometida com a dívida. No Brasil, em 2014, o governo federal gastou R$ 978 bilhões com juros e amortizações da dívida pública, ou 45,11% do orçamento executado, bem mais que os R$ 718 bilhões (40,30%) gastos no ano anterior.

(ÁVILA, Rodrigo, e FATTORELLI, Maria L. “Gastos com a Dívida Pública em 2014 superaram 45% do Orçamento Federal Executado”. In http://www.auditoriacidada.org.br/e-por-direitos-auditoria-da- ).

O critério utilizado pelos autores soma as parcelas informadas pelo governo a título de “juros” e “amortizações”, no total de R$ 978 bilhões, por duas razões: 

(1) A parcela informada a título de “Juros e Encargos da Dívida” foi de apenas R$ 170 bilhões. Conforme vem sendo denunciado desde a CPI da Dívida Pública - Câmara dos Deputados, em cada ano o governo vem deixando de computar grande parte dos juros nominais, classificando-a como “amortizações”. As estatísticas governamentais não evidenciam o valor que efetivamente está sendo pago a título de juros nominais aos detentores dos títulos. 

(2) A parcela informada a título de “Amortizações da Dívida”, ou seja, o pagamento do principal, foi de R$ 808 bilhões. Tal valor está inflado pela atualização monetária de toda a dívida, que deveria fazer parte dos juros, pois de fato é parte da remuneração dos títulos, mas está sendo contabilizada como se fosse “amortização”, conforme também denunciado desde a CPI da Dívida Pública”.

Novo debate no dia 11 de novembro

Outros expositores participaram do encontro do dia 22 (veja as fotos) e outros aspectos da conjuntura nacional e internacional foram abordados e serão objeto de matérias neste blog. Outros quatro ativistas políticos e acadêmicos farão parte do debate do próximo dia 11 de novembro (uma quarta-feira - a data foi mudada, era 5/novembro): Pery Falcón, Jorge Almeida, Celi Taffarel e Sílvio Humberto.


O evento é promovido pelo CEAS, o Projeto Velame Vivo (PVV), a Comissão da Verdade da Faculdade de Direito da UFBa e por este Blog Evidentemente – www.blogdejadson.blogspot.com 

JOSÉ CRISÓSTOMO: “A RUINDADE ALOPRADA DA OPOSIÇÃO É O MAIOR TRUNFO DO GOVERNO. MAS NÃO CONSOLA O POVÃO APERTADO”

(Foto: Internet)
Professor de Filosofia da UFBa entra no debate da conjuntura e interpela “esse pessoal de pequenas siglas sectário-delirantes”: “Como alguém pode fazer avaliação focada em particular do sistema financeiro e da gorda alta de juros, sem nenhuma referência ao fato de que Dilma forçou e conseguiu (...) baixar os juros brasileiros nominais para um dígito?”

Por José Crisóstomo - Transcrição e edição por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor do Blog Evidentemente http://blogdejadson.blogspot.com.br – publicado em 28/10/2015 (ver observação abaixo)


De meu lado, aqui entre nós, acho esse pessoal de pequenas siglas sectário-delirantes totalmente aloprado e incapaz de ver qualquer coisa na linha de entender a crise por que passa o país. Por esse pessoal, o país naufraga ainda mais.

Veja. Como alguém pode fazer avaliação focada em particular do sistema financeiro e da gorda alta de juros, sem nenhuma referência ao fato de que Dilma forçou e conseguiu, com certa tranquilidade política e até aprovação geral, e com meu aplauso caloroso, baixar os juros brasileiros nominais para um dígito, feito histórico sem precedentes, algo se bem me lembro como 7,5%, e os juros reais pra 2% (!!!), enquanto a própria imprensa capitalista do país admitia que o Brasil entrava agora no patamar normal de juros, de países normais, do resto do mundo?

Esse sim foi um verdadeiro ‘nunca dantes na história desse país’. Foi o fato mais importante e histórico de todo o primeiro mandato de Dilma. Como se pode agora, na hora de discutir a crise e a terrível alta de juros que veio com ela, deixar de fazer referência a esse que é, pelo menos na esfera econômica, seu feito mais extraordinário?

O que não funcionou, então? o que deu errado? o que não criou o ciclo virtuoso em que a queda do investimento financeiro (Brasil deixando finalmente de ser o último peru gordo do planeta, como diria o Delfim Netto) ‘forçaria’ a grana capitalista a virar investimento produtivo, que, respondendo ao generalizado aumento de renda das classes baixas, respondendo a essa demanda aumentada, faria o país finalmente explodir de crescimento, como finalmente um capitalismo de consumo de massa? Por que a taxa de investimento continuou uma merda? O investimento produtivo não veio?

E o que foi feito com a tremenda economia que, contido (!) o crime que agora se denuncia (a espoliação do país pelos financistas-rentistas-parasitas), o tesouro nacional fez, com a queda de 10 pontos percentuais nos juros, desde os tempos mais cruéis do Meirelles? (E você sabe quanto dinheiro um ponto percentual de juros custa, pra cima, ou pode ser economizado, pra baixo!).

E de onde veio a inflação que então, em plena maré de juros baixos, começou a mostrar um avanço insistente e prolongado que não foi tempestivamente enfrentado, debelado? O liberal Levy não teve tempo de causar nenhum efeito à economia (quaisquer medidas levam pelo menos seis meses) e a economia brasileira já mostrava a merda em que estava, no dia seguinte às eleições, por uma combinação perversa de estagnação e inflação. De onde veio isso?

Convenhamos, se esse fiasco não resultasse numa oposição assanhada, o que faria então com que isso resultasse? O que há de absurdo numa oposição assanhada quando a popularidade de Dilma vai lá pra baixo, não entre a burguesia, mas entre as classes pobres da sociedade?

Aliás, o caráter aloprado e desqualificado da oposição fascistoide manifestante ainda é o melhor trunfo político de que Dilma dispõe. Então, ocupemo-nos mesmo de nossas falhas. Votei nesse governo, não votaria nem agora nessa oposição de merda. Mas não dá pra não fazer uma avaliação crítica de outra merda, aquela que o governo andou fazendo, e da qual algumas pessoas surpreendentemente querem mais. Ela tá aí, exposta didaticamente, em termos bem moderados e ponderados, pelo aliado Delfim Netto. (Ou ele agora passou a inimigo neoliberal também?).

É uma pena, porque até o sucesso nas políticas sociais pode ir pro brejo com esse tipo de ‘realização’ econômica, do para-keynesianismo atrapalhado e desorientado. O lamentável é que não dá pra discutir. É o Mal que detonou a economia, não a merda da insistência tonta em medidas atrapalhadas, sob o nome de ‘nova matriz desenvolvimentista’.

Assim não tem jeito. Nós nunca erramos? Não esqueçamos que agora o governo é também um bando de gente interessada em poder, posição, cargo - o tal ‘projeto de poder’.  E a denúncia do ‘imperialismo’ nessa hora soa tão verossímil quanto a de comunismo, chavezuelismo, etc., feita pelo outro lado. É lamentável. Quem está pagando o pato são as massas.

E a crise política é em primeiro lugar o resultado do sentimento instaurado pelo quadro econômico em colapso, entre as classes populares (sic). Não tem governo popular e estável, não tem governo de esquerda ou de direita, que não entre em crise de impopularidade com uma combinação de crescimento negativo e aumento da inflação (uma façanha em qualquer lugar do mundo!). Repito: a ruindade aloprada da oposição é o maior trunfo do governo. Mas não consola o povão apertado.


Recebi do meu amigo Crisóstomo, velho companheiro de militância política, o email transcrito acima na íntegra, escrito após tomar conhecimento, através de matérias deste blog, dos debates enfocando ANÁLISE DE CONJUNTURA: ENTENDER A REALIDADE PARA TRANSFORMÁ-LA. Já houve um primeiro encontro no último dia 22 e um segundo está marcado para 11/novembro, conforme venho noticiando. O texto, como ele diz, é “uma rápida reação, uma pincelada, não um artigo ou ensaio”. 

José Crisóstomo de Souza (foto) é doutor em Filosofia Política pela Unicamp e fez seu pós-doutorado em Filosofia Contemporânea (1993-95) na UC-Berkeley. Atualmente é professor titular de Filosofia do Depto de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia Contemporânea da UFBa.

Comentário do próprio Crisóstomo:

Eu acho que o pessoal é, na verdade, menos marxista do que eu ao tentar tratar o problema econômico como essencialmente moral - bons vs maus, Bem vs Mal - e não como um desafio... ‘técnico’, ‘científico’ e político – não só ‘ideológico’ - de fazer política-econômica progressista. De solução, experimentação, tentativa e erro. Com interesses (capazes de comprometer os resultados) de todos os lados (inclusive do lado de faturar uma eleição, pra não deixar o poder e o Estado).