Frei Gilvander Moreira, da Adital
Conhecida como “Mata do Maciel”, a Mata do Planalto, situada no bairro do Planalto, em Belo Horizonte, MG, tem cerca de 300.000 m² (equivalente a 30 campos de futebol, ou seja, 30 hectares). Trata-se da última área verde da região norte de Belo Horizonte; está ameaçada de extinção.
A Construtora Rossi pretende edificar 16 prédios com 15 andares cada; 760 unidades residenciais (de 2 e 3 quartos); 1.016 vagas de estacionamento e 115.140,96 m² de área. Isso no primeiro projeto. É claro que após a construção dos 760 apartamentos, outros projetos serão apresentados para a construção sobre o que restar da Mata. Se licenciada, a construção durará quatro anos e deve causar um aumento de aproximadamente quatro mil pessoas da população local. Infernal tráfico de caminhões, devastação ambiental, poluição e muitos conflitos sociais.
Como um pequeno Davi, a Mata do Planalto resiste há décadas à fúria das construtoras e do capital. Como mandacaru, lá ainda 20 nascentes resistem, entre as quais a que dá origem ao Córrego Bacuraus, que deságua no Ribeirão Isidoro, que cai no Rio das Velhas, bacia do rio São Francisco. O biólogo Iury Valente Debien, após estudar a biótica da Mata do Planalto, atesta que é um dos últimos fragmentos urbanos de mata nativa da capital mineira. “Sua destruição vai gerar modificações ambientais e acelerar mudanças climáticas. É imprescindível para Belo Horizonte manter e valorizar esse patrimônio incluído no Vetor Norte”, defende o biólogo, lembrando que a Mata é habitat de um grande número de pássaros, répteis, anfíbios e mamíferos. No mapeamento que fez, o biólogo Iury identificou 20 nascentes na área. “Se a Prefeitura autorizar a obra, estará sendo cúmplice de um crime ambiental, que afetará não só a qualidade de vida dos moradores do bairro, mas também a de toda a cidade”. Davi venceu Golias, porque conheceu muito bem a si mesmo e o inimigo. Quem é a Construtora Rossi? Na audiência pública, um diretor da empresa disse, querendo tranqüilizar o povo do bairro Planalto, que “não iria trazer para o bairro um empreendimento estraga bairro” O que queria dizer é que os apartamentos seriam acima de 300 mil reais e, por isso, inacessíveis aos pobres. Como um grande Golias, a construtora Rossi está presente em 17 estados brasileiros, em 78 cidades e planeja expandir para 120 localidades até o final de 2011. Em Minas, está presente em Belo Horizonte, Betim, Juiz de Fora e Uberlândia e Nova Lima. No segundo trimestre de 2010, o lucro líquido da Construtora Rossi mais do que dobrou e alcançou 109 milhões de reais, crescimento de 114% em relação ao segundo trimestre de 2009. Ao lado da grande construtora Direcional, a poderosa Rossi já prepara projetos para a região do bairro Isidoro, imensa área na vizinhança da Cidade Administrativa de Minas, que é considerada a nova fronteira da expansão imobiliária da capital mineira, com potencial para a construção de mais de 70 mil unidades residenciais.
Na construção do Residencial Bothanique, em Nova Lima, MG, a Construtora Rossi foi condenada pelo Ministério Público a pagar hum milhão de reais de multa, porque os esgotos de seus funcionários estavam sendo lançados sobre uma nascente. Mentiu também ao tentar enganar a administração pública construindo acima do permitido legalmente. Mas o povo novalimense se rebelou e exige a demolição do excedente de construção. Enfim, a Construtora Rossi é um Golias, que serve ao ídolo capital. Mas a luz e a força divina presentes na biodiversidade da Mata do Planalto, no povo dos bairros circunvizinhos e em tantas pessoas de boa vontade irão impedir que a Rossi roce a Mata. Para mais informações, consulte www.matadoplanalto.blogspot.com Belo Horizonte, 17 de agosto de 2010 - (Mercado Ético.com.br)